
O Faial é talvez a ilha de todo o arquipélago onde mais se sente o poder da Natureza. É onde está o vulcão dos Capelinhos que, extinto desde 1958, lembra uma paisagem lunar. A área envolvente está ainda intacta, com cinzas e poeiras vulcânicas até onde os nossos olhos podem alcançar. No verão, o Faial está repleto do azul das hortênsias que mais nenhuma ilha se pode orgulhar tão justamente. Decoram casas, separam terrenos, bordam estradas, justificando assim o título de “Ilha Azul”. A baía da Horta é um abrigo para os amantes do mar. A colorida marina da Horta é a casa de muitos iates, veleiros, barcos e barquinhos vindos de todo o mundo. E como se não fosse suficiente, do outro lado do canal da Horta, a cerca de oito quilómetros, a ilha do Pico procura irrepreensivelmente a nossa distração. Pronto para ver o que encontrámos na “Ilha Azul”?
Chegámos à ilha do Faial ao final da tarde, mas logo percebemos que muito ainda podíamos fazer antes de ir para o alojamento. Estava um dia de sol incrível pelo que decidimos aproveitar todos os minutinhos de luz que tínhamos antes do sol se pôr. E sabes por onde começámos? Nem mais: pela cidade da Horta! Mas antes de lá irmos, permite que façamos um pequeno resumo sobre a situação geográfica do Faial, qual a forma mais fácil de chegar à ilha, os meios de transporte disponíveis e ainda alguns comentários sobre alojamentos.
Situação Geográfica do Faial
O Faial, o Pico e São Jorge compõem as “ilhas do triângulo”, pertencentes ao grupo central do arquipélago dos Açores. A ilha do Faial é o vértice mais a oeste deste conjunto triangular e apresenta-se essencialmente num formato pentagonal, sendo a terceira ilha mais habitada do arquipélago (sim, concorre com a ilha do Pico).

Como chegar ao Faial
O avião é a forma mais comum de chegar à ilha, mas também é possível chegar de barco. Há voos diretos para o Faial, a partir de Lisboa, mas também de São Miguel (Ponta Delgada), da Terceira (Lajes) ou da ilha das Flores. A melhor companhia e a única a operar na região é a SATA Azores Airlines. Mas lembramos que existe um serviço de encaminhamento entre ilhas. As chegadas marítimas podem ocorrer a partir de qualquer outra ilha do arquipélago, dependente da época do ano e das respetivas condições meteorológicas e a companhia que executa as travessias é a Atlântico Line. Nas ilhas do Triângulo, as travessias de barco são talvez as que têm ligações mais frequentes e que permitem efetua-las de forma mais rápida, económica e segura. Por isso, uma viagem combinada entre estas três ilhas pode demonstrar-se bastante compensadora, independentemente da ilha que escolhas para iniciar a viagem. Exploramos estes temas no artigo “Açores, contamos como preparámos a nossa viagem“. Nós chegámos via aérea vindos da ilha Terceira e partimos de ferryboat para a ilha do Pico.


Transporte
Existem alguns transportes públicos, como o autocarro, mas as ligações são pouco frequentes e um pouco limitadas, não nos permitindo ter a agilidade necessária para conhecermos eficazmente a ilha. A mota também é uma boa opção, mas lembra-te da instabilidade meteorológica e além disso, é mais lenta entre deslocações e, por isso surge a pergunta: “quanto tempo queres/podes ficar na ilha”? Portanto, o carro é a melhor forma de nos deslocarmos na ilha, dando a autonomia necessária para podermos conhecer devidamente a ilha. Falamos igualmente sobre as diferentes opções no artigo “Açores, contamos como preparámos a nossa viagem“. No Faial alugámos um carro na rent-a-car Auto Turística Faialense.
Alojamento
Existem muitas e diferenciadas opções, desde alojamentos na cidade, como no lado oposto, o que tem vantagens e desvantagens. Nós decidimos ficar hospedados num Alojamento Local, localizado na freguesia de Feteira, a poucos quilómetros da cidade da Horta. Este é mais um tema que abordamos no artigo “Açores, contamos como preparámos a nossa viagem“, mas também disponibilizamos informação no link “Alojamentos” de todos os locais onde já ficámos.

O nosso roteiro
A ilha do Faial tem muito para oferecer. Entre as simples visitas culturais, aos trilhos magníficos existentes, aos passeios para observação de cetáceos, aos mergulhos nas praias de areia preta, não falta o que fazer por aqui. Uma vez mais, preparámos o nosso roteiro tendo por base a informação lida e pesquisada em muitos sites e redes sociais, que foram sendo ajustados durante a nossa estadia. E agora sim, disponibilizamos a “nossa versão” do que vimos e fizemos durante os três dias de estadia pelo Faial, para que o possas utilizar na tua viagem, se assim o entenderes.
- Horta
- Marina da Horta
- Praia de Porto Pim
- Monte da Guia e Monte Queimado
- Miradouro da Nossa Senhora Conceição
- Praia de Almoxarife
- Igreja Nossa Senhora da Graça (Almoxarife)
- Porto da Boca da Ribeira
- Miradouro da Ribeira das Cabras
- Trilho “Rocha da Fajã – PRC02 FAI”
- Praia da Fajã
- Vulcão dos Capelinhos
- Centro de Interpretação do Vulcão dos Capelinhos
- Piscinas Naturais do Porto do Comprido
- Piscinas Naturais de Varadouro
- Caldeira do Cabeço Gordo
- Outros pontos de interesse
- Gastronomia
- Festividades

1.Horta
Como te dissemos no início, a nossa viagem pelo Faial começou pela cidade da Horta. A viagem desde o aeroporto até lá foi fenomenal em termos paisagísticos: estava um final de dia solarengo! O sol estava a pôr-se no horizonte, fazendo com que as cores se intensificassem. Se houve dia em que o céu estava limpo e desimpedido de nuvens, esse foi o dia! Por outro lado, entre curvas e mais curvas, do outro lado a ilha do Pico desafiava a nossa atenção! Sim, é inevitável o domínio que a vista do Pico exerce a partir da cidade da Horta. Estamos apenas a cerca de oito quilómetros de distância e, em dias solarengos, é das paisagens mais sensacionais que podemos ter sobre a ilha do Pico!

No aeroporto procurámos por um mapa da ilha, que tinha no mesmo flyer, o mapa da cidade (também disponíveis numa qualquer loja de turismo local). Estacionámos o carro perto do Portão fortificado de Porto Pim, localizado relativamente perto da Praia de Porto Pim, e caminhámos até ao Forte de Santa Cruz da Horta. Este forte é uma importante fortaleza da era dos Descobrimentos que foi transformado num charmoso hotel – a “Pousada Forte da Horta”.


Começámos a percorrer as pequenas ruas, umas mais estreitas do que outras, mas todas com o mesmo estilo: especialmente dedicadas aos marinheiros. Decidimos enveredar pelas ruas interiores da cidade. Encontrámos a Igreja de São Francisco, a “Casa Manuel de Arriaga” onde nasceu e viveu o 1º Presidente da República Portuguesa, o Museu da Horta e a Igreja Matriz de São Salvador. Nesta rua existe igualmente boas lojas de souvenirs e outras coisas mais. À saída da cidade (a caminho de Almoxarife) existe o Parque Municipal da Alagoa ou também conhecido por Parque de Lazer Vitorino Nemésio. É uma área de lazer bastante agradável onde existem churrasqueiras e mesas para piqueniques, parque de entretenimento para os mais pequenos, um parque de skate e, mesmo em frente, uma pequena praia, a Praia da Conceição.
2.Marina da Horta
De regresso ao centro da cidade pela avenida marginal, a paragem na Marina da Horta é inevitável. A sua presença é imponente na cidade e é impossível não a ver e sentir a vibração com e para os aventureiros dos mares. A marina foi construída nos anos oitenta e a sua localização é um excelente abrigo contra ventos vindo de todas as direções. É uma escala quase obrigatória para os veleiros que viajam por todo o Atlântico.
Percebemos isso enquanto passeávamos pela cidade, mas sobretudo quando “entranhamos” na própria marina. Os muros que sustentam a marina não têm espaços vazios: estão cobertos de pinturas feitas pelos iatistas, para que a sorte lhes sorria durante as suas viagens. É uma tradição que tornou a Marina da Horta uma galeria de arte a céu aberto.

A Horta é também Peter Café Sport ou simplesmente Peter, que é muito mais do que um bar de marinheiros. É um dos bares mais famosos do mundo e, como os próprios dizem, “Se velejares até à Horta e não visitares o Peter, não viste a Horta na realidade”, por isso, a paragem é obrigatória, independentemente da forma como chegaste ao Faial. É conhecido pela sua história e cultura, assistindo os velejadores que por ali param, sendo sobretudo um lugar de acolhimento para momentos repousantes e felizes durante as escalas. Funcionando como agência de câmbios, ponto de encontro ou até posto de correio do Atlântico. Por aqui é famoso o gin tónico ou a Açorianinha do Peter’s, uma especialidade desta casa muito semelhante à francesinha típica da cidade do Porto (norte de Portugal continental).
3.Praia de Porto Pim
A paragem seguinte foi junto à praia de Porto Pim e foi por ali que aproveitámos a paragem para um lanchinho rápido. A praia está localizada numa baía, é a baía de Porto Pim. Por este facto, aqui a ondulação é praticamente inexistente e a água de cor cristalina, sendo por isso uma das praias mais populares na ilha. Infelizmente está demasiadas vezes interdita por contaminações e, no dia que a visitámos, estava de novo nestas condições, o que nos deixou muito desiludidos.



4.Monte da Guia e Monte Queimado
E não há melhor forma de avistar esta baía do que subir ao Monte Queimado ou, ao Monte da Guia. Mas não é só a baía que podemos avistar daqui: a cidade da Horta e as ilhas do Pico e de São Jorge são também elas visíveis destes pontos (estas ultimas, quando a meteorologia assim o permite) e que vistas… São paragens obrigatórias para quem visita o Faial!

O Monte da Guia, em particular, é um cone vulcânico que foi ligado à ilha após sucessivas erupções. De um lado têm-se então uma paisagem deslumbrante sobre a cidade da Horta e do outro as crateras de antigos vulcões já abatidos e agora preenchidos pelas águas do mar. Aqui é possível percorrer o trilho “PRC08 FAI – Entre Montes“, um percurso circular, fácil, com uma extensão de pouco mais de três quilómetros e com duração de cerca de uma hora e meia. É possível visitar a Casa dos Dabney, a Estação de Peixes Vivos (Aquário de Porto Pim) e ainda a Fábrica da Baleia. Esta zona faz ainda parte do Geoparque Açores, fazendo parte de uma Zona Especial de Conservação.


5.Miradouro da Nossa Senhora da Conceição
Se és novo por aqui, tens de saber que os Açores, independentemente da ilha, são riquíssimos em miradouros. Deixamos o link aqui para que possas descobrir mais. Mas se não és, aqui vai mais um, digníssimo de uma boa paragem! É verdade, este é o Miradouro da Nossa Senhora da Conceição e, em dias de bom tempo, oferece uma paisagem de ficar de “queixo caído” e de não querer sair dali.

Este miradouro fica localizado na ponta da Espalamaca, à saída da cidade da Horta. Daqui é possível observar toda a baía da Horta, considerada uma das mais belas baías do mundo. Se houvessem dúvidas quanto a esta afirmação, este miradouro dissipá-las-á com toda a certeza! Além de podermos deliciar-nos com a paisagem sobre a baía, é ainda possível avistar o Monte Queimado, o Monte da Guia, as três freguesias que compõe a cidade da Horta (Angústias, Matriz e Conceição) e, em dias de bom tempo as ilhas do Pico, São Jorge e, com sorte também a Graciosa. Como o próprio nome indica, neste local está um monumento dedicado à Nossa Senhora da Conceição, composto por uma imagem esculpida em mármore branco com cerca de vinte e nove metros de altura.
Não podíamos ter escolhido melhor local para encerrar o nosso dia e aquele que foi o primeiro dia na ilha do Faial… Deveras exaustos, mas completamente derretidos com tamanha beleza!


6.Praia de Almoxarife
No dia seguinte começámos o dia na praia de Almoxarife, localizada em Almoxarife e a poucos metros do Miradouro da Nossa Senhora da Conceição. Para dizer a verdade, não resistimos e visitámos esta praia duas vezes durante a nossa estadia. É simplesmente fenomenal para passar um belo dia de mergulhos, entre família e amigos! É considerada uma das melhores e maiores zonas balneares da ilha, além de oferecer uma deslumbrante panorâmica sobre a ilha do Pico.

Possui um areal extenso e negro, inserido num cenário verde carregado de muita beleza natural. As águas são cristalinas e oferecem excelentes condições para a prática de windsurf e mergulho. No verão podem atingir os vinte e dois graus. Possui ótimas infraestruturas de apoio, como duches, sanitários, bar, restaurantes, vigilância, acessibilidades e ainda um parque de campismo mesmo ao lado. Portanto, se visitares o Faial, não poderás deixar de colocar esta praia no teu roteiro!

7.Igreja Nossa Senhora da Graça (Almoxarife)
Já que estávamos em Almoxarife e, ao longe, podíamos avistar as torres da Igreja de Almoxarife, decidimos aproximarmos para apreciar de mais perto este templo. As portas encontravam-se fechadas, pelo que acabámos por permanecer apenas no exterior e contemplar a fachada do edifício. Este é então um imponente templo dedicado à Nossa Senhora da Graça. Lembramos que nos Açores são na sua grande maioria muito religiosos. Em frente existe um pequenino jardim com um parque de lazer para pequenos e graúdos, também digno de um pequeno passeio.

8.Porto da Boca da Ribeira
Percorrendo a costa, um pouco mais para norte, chegámos ao Porto da Boca da Ribeira, também muito conhecido por Porto da Ribeirinha. Na realidade, foi um pouco por acaso e numa de descoberta que aqui chegámos. Para aqui chegar, é necessário sair das estradas principais e, eventualmente por segurança utilizar o GPS. Tínhamos estacionado o carro um pouco mais acima, mas na realidade podíamos ter andado até um pouco mais em diante. À medida que descíamos a estrada, começávamos a ouvir os pequenos gritinhos da criançada que aparentemente ali circulava. Logo percebemos que aquele local não era exatamente o que imagináramos.

Esperávamos encontrar apenas um pequeno porto marítimo, mas na realidade encontrámos mais do que isso. Encontrámos também uma interessante zona balnear. É local que oferece boas infraestruturas de apoio, como balneários, parque de merendas com churrasqueiras e ainda um pequeno parque para acampamento. Como se não bastasse, é mais um maravilhoso local para desfrutar da paisagem sobre a ilha do Pico e a costa este da ilha do Faial. Valeu largamente os poucos minutos que dispensámos do nosso roteiro para o conhecer, sendo que ainda equacionámos largamente a hipótese de ficarmos por ali o resto da tarde.


9.Miradouro da Ribeira das Cabras
E num “pulinho” chegámos ao miradouro da Ribeira das Cabras. Está localizado na zona norte da ilha, mais precisamente na freguesia da Praia do Norte. O miradouro tem vista para uma falésia junto à Baía das Cabras e à Praia da Fajã. Além disso, em dias solarengos, é possível avistar a costa até ao Vulcão dos Capelinhos. É mais um excelente espaço de lazer, com estacionamento e merendário para passar o dia em família.

10.Trilho “Rocha da Fajã – PRC02 FAI“
E eis que decidimos fazer mais um percurso pedestre! Desta vez escolhemos o trilho da “Rocha da Fajã – PRC02 FAI“! Se não és novo por aqui, de certo te lembrarás que este é um dos ex-líbris dos Açores, mas se és novo, então deixa-me dizer-te que o arquipélago dos Açores está “carregadinho” de excelentes percursos pedestres e, quanto a nós, é a melhor forma de conhecer um local. Neste link poderás encontrar mais informação sobre muitos trilhos maravilhosos que se desenrolam nas maravilhosas ilhas do arquipélago Açoriano.
O trilho da Rocha da Fajã é um percurso circular, de média dificuldade, com extensão de cinco quilómetros e duração de cerca de duas horas e meia. O trilho começa ao lado da Igreja de Nossa Senhora das Dores, junto à estrada regional que atravessa a freguesia da Praia do Norte, mas para sermos sinceros, tivemos dificuldade em identificar o início do percurso, pois as indicações não estavam muito claras. Podes encontrar mais informação sobre este trilho aqui.
Pois bem, estacionámos o carro perto da igreja, tomámos rapidamente um cafezinho no Restaurante Rumar que amavelmente nos abriu as portas, organizámos os últimos pormenores, botas nos pés e siga, que já começava a tardar. Como de costume, fomos seguindo a sinalética própria, atravessando o pouco casario existente, alguns fontanários e começámos a descer por um caminho de terra de acesso a campos agrícolas.




Fomos descendo e, de repente, à nossa frente só existia um mural de canaviais e não conseguíamos perceber como é que o percurso podia continuar, uma vez que nada mais era visível para além dos canaviais. Achámos um pouco estranho, mas continuamos até conseguirmos chegar mais perto. De imediato voltámos a ver uma nova sinalética e uma pequena abertura em formato de U invertido. O Magno ia à frente e de repente volta-se para mim, que ia um pouco mais atrás, e somente soletra “WOW”: estávamos a entrar numa arriba coberta por vegetação típica das florestas Laurissilva como a Urze, o Pau-branco, entre outras. Estávamos de novo a passar num bosque praticamente intacto, indescritivelmente belíssimo. Encontrei flores que a minha mãe há muitos anos tinha no jardim quando eu era pequena e que há muito não via, ouvimos passarinhos que passeavam ao nosso redor como se nos cumprimentassem. Foram minutos inesquecíveis, que guardamos e que nos fazem lembrar o quão estas pequenas coisas simples são para nós suficientes! Não precisamos de mais!


A descida é de cerca de um quilómetro, em curva contra curva e é, em alguns pontos, quase vertiginosa. Sensivelmente a meio da descida, existe um desvio para um miradouro. A distância até ao miradouro é muitíssimo curta, portanto vale a pena dar um pulinho até lá. Voltámos ao trilho.

E eis que começámos a sair da floresta e a entrar na base da montanha. Sim, estávamos a chegar à Fajã. Transpusemos a ribeira do Adão, entrámos numa zona de casario, tranquilo e onde o mar já se fazia ouvir e sentir. Chegámos por fim à Praia da Fajã. Falaremos especificamente desta praia no tópico seguinte, porque vale de facto a pena dedicar um bocadinho deste artigo ao local em questão. Sentámo-nos um bocadinho no parapeito do muro que sustenta a rua da ondulação do mar e bebemos água, enquanto apreciávamos a envolvência deste incrível local.


Pés ao caminho: era hora de iniciar a subida de regresso. Passamos de novo por outro fabuloso parque de merendas, com churrasqueiras e mesas de apoio, até voltarmos a enveredar por terrenos naturais.


Entrámos de novo na floresta durante uns belos quilómetros, seguindo o percurso de novo em direção ao centro da freguesia da Praia do Norte passando pela Ermida de Nossa Senhora da Penha de França. E mais um percurso acabávamos de guardar nos nossos roteiros, marcando de forma especial a nossa estadia na ilha do Faial.


11.Praia da Fajã
A Praia da Fajã, também conhecida pela Praia do Norte, localiza-se na freguesia da Praia do Norte, na costa norte da ilha do Faial. É a única fajã da ilha e possui esta zona balnear com dois areais, com paisagens deslumbrantes e bonitos recantos para repousar.
Conhecemos a Praia da Fajã quando fizemos o trilho “Rocha da Fajã – PRC02 FAI”. Contudo, esta praia também é acessível de carro e, por este motivo, decidimos falar dela em tópico próprio: independentemente da forma como chegam lá, o importante é mesmo chegar lá!
Esta praia é o reflexo claro do “eterno duelo entre o mar e os vulcões”. O seu areal é sobranceiro a uma imponente arriba integralmente coberta por vegetação da floresta Laurissilva e a mesma do trilho “Rocha da Fajã – PRC02 FAI”. A sua formação surge como resultado de uma escoada lávica da erupção do Cabeço do Fogo e as excelentes condições que entretanto foram criadas e que favoreceram a produção vinícola na região. A praia ostenta areias escuras, o mar é agitado, possibilitando ótimas condições para a prática de surf. De uma forma resumida, a beleza desta praia deve-se ao contraste do areal negro, o verde da falésia e da vegetação envolvente e ainda com o azul do mar agitado.

12.Vulcão dos Capelinhos*
Estávamos perto da ponta mais a oeste e, sabendo previamente o que estaria para aqueles lados, decidimos chegar mais peto. E mais uma vez, por entre curvas e mais curvas, em que o verde da vegetação ia ficando para trás, surge à nossa frente e atrás de mais uma outra curva, uma paisagem árida, completamente despida de vegetação. No horizonte, ergue-se uma torre que dali parece exatamente do mesmo tamanho da última montanha. É ali que termina a ilha do Faial! Sim, aquela torre é o Farol dos Capelinhos e ao lado impõe-se o Vulcão dos Capelinhos, um dos postais mais impressionantes da ilha do Faial e também dos Açores!

Descalçámos os chinelos de dedo que vinham nos pés e trocámo-los pelas botas de montanha. Sim, é verdade que olhámos para o que estava à nossa frente e percebemos claramente que não íamos ficar só por ali. Iriam ser precisas as botas de montanha de novo, apesar de não sabermos e muito menos termos planeado o que iríamos fazer poucos minutos depois.
À medida que avançávamos, sentimos que a passada ficava mais apressada e nada nos fazia desviar o olhar do horizonte de onde se destacavam o farol e o vulcão. Na realidade, não é de imediato percetível a localização da cratera do vulcão, mas a vontade de chegar mais perto aguçava a curiosidade. De facto, o terreno tem sofrido alterações pelo efeito da erosão marítima e, por isso, o formato cónico de Novembro de 1958 (fim da atividade vulcânica), não é mais o atual. Uma coisa é certa: o impacto daquele local é brutalíssimo e a sua imponência é incontestável!


Chegámos ainda mais perto e a imaginação começou a trabalhar sem muito esforço: Como seria aquele local antes da erupção? Que sentimentos tiveram os habitantes? Saberiam exatamente o que se estava a suceder? As perguntas eram muitas… Ficámos ali, naquele parapeito criado pelo Homem e localizado para lá do farol, uns belos minutos a contemplar aquela paisagem enquanto a nossa mente divagava.

Voltámos a contornar o farol, regressando à entrada. Olhámos ligeiramente para o nosso lado esquerdo (de costas para o farol) e para a colina e um varandim construído em madeira. Não conseguíamos perceber onde acabava aquele varandim mas, no horizonte, podíamos ver que algumas pessoas estavam a subir aquela colina junto a esse varandim. Decidimos fazer o mesmo.

À medida que subíamos, começámos a perceber que do topo iríamos conseguir vislumbrar o farol e o vulcão. Acelerámos o passo, mas a dureza daquela subida estava a deixar-nos sem folgo. A subida é prolongada e íngreme, requer alguma resistência física mas nada impossível. O solo é inicialmente arenoso e, à medida que vamos subindo, vai-se tornando cada vez mais pedregoso e sólido.

E eis que chegámos ao topo da colina! Não estava ninguém lá em cima e a vista era indescritivelmente estonteante. Na paisagem vislumbramos o farol e o vulcão, ambos envolvidos em cinzas, numa paisagem completamente árida onde o contraste é apenas o azul do Oceano Atlântico que surge no horizonte. Na nossa opinião, vale a pena fazer o esforço da subida e ficar ali uns minutos a contemplar a vista. Mas atenção: não há grandes proteções e existem arribas profundas – está atento!




Iniciámos a descida e aí pudemos sentir no corpo o impacto da subida: as pernas cambaleavam e a sensação de que o joelho iria ceder, intensificava-se a cada passada.
Chegámos de novo ao ponto de partida e verificámos que estavam a ocorrer visitas ao topo do farol, que consequentemente tinha uma pequena varanda que circundava todo o topo. Decidimos visitar. Entram cerca de 10 pessoas de cada vez, por isso é necessário aguardar vez no exterior. Do topo do farol é possível uma vez mais ter outra perspetiva do vulcão e da paisagem envolvente. Se tens tempo, aproveita a conhecer, este farol que encontra-se desativado após as erupções de 1957/1958.
Se queres conhecer um pouco mais sobre a história deste vulcão, convidamos-te a ler um artigo de 2017 da National Geographic, intitulado “Leve lava – Vulcão dos Capelinhos sessenta anos depois”.


13.Centro de Interpretação do Vulcão dos Capelinhos
Estávamos já de saída quando nos apercebemos de uma entrada subterrânea por onde estavam a entrar e sair pessoas. Decidimos aproximarmo-nos e, à medida que nos aproximávamos, percebemos que se tratava de um museu – é o Centro de Interpretação do Vulcão dos Capelinhos (CIVC). O edifício está soterrado com o objetivo de não interferir com a paisagem existente.
Este espaço tem caráter informativo, didático e científico, onde existem inúmeras exposições sobre os tipos de atividade vulcânica no mundo e a história dos faróis açorianos. No entanto, o foco principal é dedicado ao Vulcão dos Capelinhos e a formação do arquipélago dos Açores. Em 2021, foi nomeado pelo European Museum Forum para melhor museu da Europa. Não hesitámos na visita: era o local indicado para “matar” toda a nossa curiosidade sobre o local e a sua história.

14.Piscinas Naturais de Porto do Comprido
E um mergulho nas águas de um vulcão? Pois bem, estas são as Piscinas Naturais de Porto do Comprido e há quem diga que a temperatura morna e cristalina das suas águas é ainda oriunda da atividade do Vulcão dos Capelinhos. Como se não fosse suficiente, estas Piscinas Naturais formadas a partir de rocha basáltica, proporcionam uma vista formidável para este vulcão acabadinho de formar. Outrora este local era um importante porto de onde zarpavam muitos botes para tão arriscada faina baleeira. Como podes perceber, está mesmo ao lado do Vulcão dos Capelinhos, bastando apenas continuar na mesma estrada, descendo em direção ao mar.

15.Piscinas Naturais de Varadouro
O dia estava a chegar ao fim e seguimos pela encosta sul, em direção à cidade da Horta e ao alojamento, quando surge uma placa a indicar “Varadouro”. O Magno recordou-se imediatamente de ter lido sobre as Piscinas Naturais que aqui existem quando estivera a preparar o roteiro e decidimos seguir a direção da placa. Curva contra curva, íamo-nos aproximando da costa marítima.
Estas Piscinas Naturais localizam-se na Fajã do Varadouro e pertencem à freguesia do Capelo. São formadas por rochas vulcânicas onde os amantes de mergulhos podem escolher entre as tranquilas piscinas naturais ou um mergulho direto em mar aberto. As águas são cristalinas e com excelente visibilidade para a prática de mergulho ou snorkeling. Já o espaço envolvente é formidável nas acessibilidades e na paisagem com vista para o Morro do Castelo Branco e imensidão do Oceano Atlântico.




16.Caldeira do Cabeço Gordo*
O Cabeço Gordo é o ponto mais elevado da ilha e está localizado a 1043 metros de altitude. A Caldeira está localizada nesta zona e é a cratera do maior vulcão da ilha do Faial, com cerca de dois quilómetros de diâmetro e cerca de quatrocentos metros de profundidade, formado a partir de inúmeras erupções, intercaladas com períodos de acalmia.
Adiávamos a subida à Caldeira algumas vezes, na tentativa de encontrar uma brecha nas nuvens que teimavam em rodopiar em torno das zonas mais altas da ilha. Mas na realidade, durante toda a nossa estadia, isso nunca aconteceu. Decidimos então subir no último dia, junto à hora do almoço, pois acreditávamos que a probabilidade de estar menos encoberto seria maior. Chegámos lá acima e felizmente não chovia, mas o tempo estava muito encoberto e víamos as nuvens a cortar o topo das montanhas a uma velocidade estonteante. Vestimos roupa mais quente e “lá saltámos do carro”. Sim, o vento fazia-se sentir e o frio veio por arrasto, mas não podíamos deixar de visitar aquela que é uma das paisagens mais carismáticas do Faial e dos Açores.
Passámos um pequeno túnel e de repente estávamos dentro da cratera de um vulcão. E de novo: “Wow”! Que imagem estava diante dos nossos olhos! Nem acreditávamos: ao contrário do que imaginámos, conseguíamos ver para o interior da cratera. Estava repleta de flora luxuriante, típica da floresta Laurissilva, quer no fundo, como nas paredes e topo. O vento parecia que soprava ainda com mais intensidade, provocando um som ensurdecedor. Víamos as nuvens a rodopiarem no centro da cratera e a desvanecerem com o vento. Ora desciam e tapavam o interior da cratera, ora subiam e o sol iluminava aquele circulo de natureza. A velocidade era tão acentuada que mal conseguíamos acompanhar aquele ritmo.


Decidimos subir as escadas até ao topo da cratera para tentar a nossa sorte. No topo da cratera existe um magnifico miradouro natural e, virando à direita por um caminho de terra, vislumbramos a Ermida de São João. Em dias de bom tempo, este miradouro permite avistar as ilhas do triângulo e, com sorte, até a ilha Graciosa. Não foi a nossa sorte, no entanto, vale igualmente a pena a subida.
Para os amantes de trails como nós, existe neste local uma interessante rota circular. É o PRC04 FAI – Caldeira de aproximadamente sete quilómetros, com duração de duas horas e meia e classificado como percurso fácil. É aconselhável percorre-lo em dias de bom tempo e boa visibilidade, tendo sido este o motivo pela qual não o chegámos a fazer. Mesmo assim, deixamos aqui o link com mais informação sobre este percurso.
17. Outros pontos de interesse
O tempo escasseia sempre tão rápido quando fazemos coisas que gostamos… Queríamos que os dias tivessem muito mais do que 24 horas, mas esta proeza ainda não é possível! Assim sendo, gostávamos de partilhar alguns pontos que colocámos no nosso roteiro mas que infelizmente não tivemos oportunidade de conhecer, mas que temos certeza serem dignos de visita. Deixamos alguns links associados para serem de mais fácil consulta:
- Farol da Ponta da Ribeirinha (Encosta Este)
- Morro do Castelo Branco
- Queijaria artesanal “O Morro”
- Miradouro da Ponta Furada
- Piscinas Naturais do Porto do Salão (Encosta Noroeste)
- Piscinas Naturais da Poça da Rainha (Feteira)
- Piscinas Naturais da Lajinha (Feteira / Ribeira Funda)
- Outros trilhos interessantes: Cabeço do Canto – PRC01 FAI ou Dez Vulcões – PR06 FAI
Ainda antes de terminar, gostávamos ainda de falar de dois pontos que, na nossa opinião, são igualmente essenciais: A Gastronomia e as Festividades locais.
18.Gastronomia
Quem já nos conhece sabe que nós não nos focamos demasiado nas gastronomias dos locais que visitamos, isto porque somos da opinião que este é outro “mundo turístico” que nunca mais acaba, sobretudo em Portugal. No entanto, sempre que podemos não deixamos de provar as iguarias locais ou pelo menos fazer referência a elas e por isso aqui fica.
À semelhança de outras ilhas do arquipélago, o Faial é igualmente riquíssimo em gastronomia e a importância marítima ganha o seu verdadeiro significado quando nos sentamos à mesa. O mais famoso é o polvo guisado com vinho, mas os caldos e caldeiradas de peixe, o marisco, a lagosta, o cavaco, o arroz de lapas, geralmente acompanhados de pão e/ou bolo de milho, são igualmente conhecidos e muito apreciados. Quanto aos pratos de carne, as morcelas e linguiças acompanhados geralmente com inhame servem de desculpa para um agradável petisco ou até mesmo uma refeição. Já a receita da molha de carne, com adição da pimenta, dos cominhos e da canela para temperar, é o generoso refogado onde coze a carne de vaca. Na doçaria, reinam as típicas Fofas do Faial. São bolinhos de massa aromatizada por sementes de funcho, que cozem no forno antes de serem recheados com creme de gemas de ovos.


19.Festividades
Já as festividades no Faial ocorrem com mais frequência no verão. A Festa da Nossa Senhora das Angústias ocorre no sexto domingo após a Páscoa e é uma das maiores (se não a maior) e mais antiga manifestação religiosa que ocorre no Faial. As festas dos Santos Populares e as festas do Espírito Santo são também bastante populares na região. No dia 1 de Fevereiro de cada ano, a câmara municipal cumpre um voto secular, com procissão e preces na igreja de Nossa Senhora da Graça, na Praia do Almoxarife. No dia 1 Agosto comemora-se a Festa da Senhora da Guia, onde um cortejo de embarcações escolta a imagem da Virgem desde o areal de Porto Pim até ao porto da Horta. A animação prossegue com a Semana do Mar que, inicialmente era dedicada aos iatistas e agora é partilhada por faialenses e visitantes. O Pézinho e a Chamarrita são as danças típicas do Faial e são acompanhadas pela sonoridade da viola de arame. Em todas as romarias movimentam filarmónicas de toda a ilha que têm a responsabilidade de animar e divertir todos os que se querem deixar envolver.

Partimos do Faial ao final do dia e, ainda em terra firme e já com saudade do que vivemos aqui. Guardamos na memória e no coração paisagens incríveis que a natureza fez questão de esculpir neste bocadinho de terra firme. De barco, com a Atlântico Line, o nosso rumo foi a ilha do Pico, onde viríamos a viver mais um marcante momento da nossa vida a dois… Curioso/a? Então espera por ver o que te vamos contar nos próximos artigos, exclusivamente dedicados à ilha do Pico.

*Nota Importante:
Quer a descida ao fundo da Caldeira, quer a visita ao Vulcão dos Capelinhos somente pode ser efetuada por acompanhamento de guias credenciados, sendo necessária autorização prévia do Parque Natural da ilha do Faial. Deixamos mais um link importante para este efeito aqui.
**Se tens alguma dúvida ou gostavas de ver esclarecido alguma dúvida, não hesites em contactar-nos, deixando-nos uma mensagem. Teremos todo o gosto em ajudar.
Sugestões para uma visita à ilha do Faial
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Olá António,
Gratos pela sua mensagem.
Esta foi a nossa experiência, mas também é a nossa sugestão.
Essencialmente os imperdíveis são: a cidade da Horta e a marina, Praia de Porto Pim, Monte da Guia e Monte Queimado, Miradouro da Nossa Senhora Conceição, Praia de Almoxarife (areia preta), Vulcão dos Capelinhos e o Centro de Interpretação do Vulcão dos Capelinhos (não se esqueça de subir ao farol), Piscinas Naturais do Porto do Comprido e a Caldeira do Cabeço Gordo (atenção à metrologia – veja do que falamos no artigo…).
Esperamos ter ajudado.
(Pedimos desculpa no atraso nesta resposta…)
Os nossos melhores cumprimentos.
Sílvia e Magno
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