Parque Natural de Montesinho

O Parque Natural de Montesinho é mais um santuário natural escondido em Portugal. Localizado no Nordeste Transmontano, o Parque estende-se no território norte dos concelhos de Vinhais e de Bragança e é mais um local deslumbrante onde a natureza convida a parar e a observar o que por ali se passa. Os montes arredondados perdem-se de vista, os rios encaixam arquitetonicamente nos vales em redor e os animais observam-nos sem darmos por eles. Por ali, circulam o lobo-ibérico, a corça ou o veado. Já o sabor a ruralidade é bem percetível quando visitamos algumas das aldeias desta Terra Fria Transmontana, como Rio de Onor, Montesinho ou até Gimonde. Parece “apenas mais um Parque Natural”? Talvez possa parecer, mas na realidade não é! Venha daí: convido-o a conhecer ou, quem sabe, recordar, mais um “cantinho” e este está localizado bem a nordeste de Portugal!

Vindos da região de Macedo de Cavaleiros, chegámos a Gimonde já ao final de uma tarde do início do mês de Agosto. Foi nesta aldeia que pernoitámos durante duas noites e percorremos o parque, sempre regressando aqui ao final dos dias. Esta foi a nossa escolha, mas naturalmente que essa decisão pode e deve ser sempre flexível ao que cada um planeia, tendo em conta que o automóvel é o meio de transporte mais adequado (se não o único) para as deslocações.

Gimonde

Gimonde é uma pequena aldeia, localizada a sete quilómetros de Bragança e à entrada do Parque Natural de Montesinho. É famosa pelos trunfos gastronómicos, como o fumeiro do Porco Bísaro, não desprezando a Posta Mirandesa e as compotas. Apesar da gastronomia ser um dos pontos mais fortes, naturalmente que o próprio encanto rural da localidade não deixa ninguém indiferente.

O xisto é forte na região e prova disso está na medieval Ponte Velha de Gimonde formada por este material geológico e por onde passa o Rio Onor que a jusante se une ao Rio Sabor. Bem perto existe outra ponte que serve a EN218 e que é formada com material granítico. Pelo meio, existe uma pequena poldra que permite a passagem apeada entre margens que faz a delícia dos pequenos e dos graúdos… Nas margens, existe um parque de merendas para umas belas tardes de piqueniques.

Decidimos andar um bocadinho mais para o interior norte e chegámos a Rio de Onor.

Rio de Onor

Rio de Onor é uma das aldeias mais emblemáticas do Parque Natural de Montesinho. Em 2017, foi eleita a “7ª Maravilha de Portugal” na categoria “aldeia em área protegida”. Mas não é propriamente por este facto que Rio de Onor é uma aldeia bem especial. A sua essência vai muito além do que os nossos olhos são capazes de ver. Visitar Rio de Onor requer “olhos de lince”: ir sem pressas desenfreadas, ter a capacidade de estar atento à diferença e ter a oportunidade de conversar com os seus moradores. Mas já vos digo onde quero chegar!

Assim que entrámos em Rio de Onor observámos uma aldeia tipicamente transmontana, com um rio de seu nome Onor que divide a aldeia em dois. As estradas são estreitas e em calçada, as casas, por seu lado, são na sua grande maioria muito semelhantes entre si: em xisto escurecido, de dois andares e com varandas em madeira e são poucas as que destoam desta realidade, mesmo as que se encontram desabitadas ou em ruínas. Não tem muito tempo que no primeiro andar moravam os habitantes e no rés do chão o gado, tradição esta que tem vindo a mudar com o passar dos anos.

Se caminharmos mais um bocadinho, chegamos à fronteira com Espanha e eis que surge a ainda mais pequena aldeia Rihonor de Castilla, que até ao momento apenas tem dez habitantes. Não estranhe portanto se escutar por ali: “uma aldeia, dois países”.

Até agora, algo de muito diferente de muitas outras aldeias? Não, claro que não! Mas é agora que explico o que há de diferente na aldeia de Rio de Onor e que só um contacto mais aprimorado pode captar! Rio de Onor é sinónimo de “Comunitarismo” que, a par do “Rionorez”, o dialeto próprio da aldeia, fazem da nossa visita uma experiência única, memorável e enriquecedora. E como captar isto? Comunicando com os habitantes locais.

Trilhámos as ruas da aldeia até que encontrámos, quase sem querer, o senhor Fernando que debulhava grão de bico. Mas que simpatia de senhor, ou não fosse ele um “Fernando”! 🙂 Conversa puxa conversa e eis que amavelmente nos começa por dizer que aquele grão de bico seria para distribuir pelos habitantes da aldeia. É verdade, naquela aldeia tudo é partilha: os habitantes partilham terras agrícolas, rebanhos, tanques de lavar roupa, fornos e em tempos, imaginem só, até um touro que tinha habitação também comunitária e que hoje é um museu de seu nome “Casa do Touro”. Ali prevalece a partilha e a entreajuda, onde existe um Conselho próprio que se rege também ele por leis próprias. Este Conselho é formado por dois mordomos que têm a “Vara da Justiça”, uma vara comprida de madeira, onde são registadas com pequenos golpes as aplicações de multas, muitas vezes pagas em medidas de vinho ou azeite que, quanto maior o “delito”, maior será a medida a distribuir por todos. E o “Carabelho”? Não é um “exclusivo” de Rio de Onor mas um pouco por todo Trás-os-Montes podemos encontrá-los. Trata-se de uma fechadura bastante rudimentar, de vários feitios e muito fáceis de abrir, que permitem fechar portas de casas, lojas ou currais, cuja a aplicação apenas é viável em locais onde a confiança impera (foto acima).

É verdade que, como em muitas outras aldeias, a juventude saiu em busca de novas oportunidades e também é verdade que muitas gentes procuram cada vez mais localidades carregadas de histórias e memórias. Rio de Onor não é exceção e é mais um destes exemplos bem merecedores de visita.

De regresso a Gimonde, decidimos que não poderíamos seguir sem visitar a belíssima aldeia de Montesinho, que está praticamente paredes-meias da fronteira com Espanha.

Montesinho

Montesinho é uma pequena aldeia, conhecida pelo Parque Natural que a apelida. Está localizada a 1030 metros de altitude, sendo uma das aldeias mais altas de Portugal e a mais alta da Serra de Montesinho.

Estacionámos o carro à entrada e decidimos a pé trilhar as pequenas ruas. E sim, esta é uma das melhores formas de conhecer esta pequena aldeia da Terra Fria Transmontana, que está cuidadosamente preservada pelas suas gentes. À entrada da aldeia e do topo da igreja vislumbramos a sua arquitetura tão singular e tipicamente transmontana. As casas têm paredes em granito, telhados em xisto escurecido e algumas delas possuem fabulosas varandas que convidam a repousar, observar a tranquilidade que por aqui prevalece, sentir o silêncio e o vigor que os nossos pulmões adquirem quando inspiramos o ar puro que por aqui circula.

Ao final do dia, regressámos então a Gimonde para partir no dia seguinte pela manhã.

Foi dificil ir embora! Foram apenas 2 dias a explorar esta região do Parque Natural de Montesinho e considerámos que não é de todo suficiente. Neste parque existem muitos locais dignos de visita, trilhos imperdíveis, aldeias típicas e gastronomia que nos tira a compostura, paisagens naturais que deslumbram a cada montanha contornada e que são motivos mais do que válidos para ficar mais dias ou regressar pouco tempo depois. Depois desta viagem realizada em pleno verão, ficou a vontade e a curiosidade de a conhecer em pleno inverno, de preferencia solarengo… Quem sabe se a oportunidade não surge?

Nenhuma outra área protegida expressa tão bem o contraste das estações do ano como Montesinho.

(NATIONAL GEOGRAPHIC – Dezembro 2004, Revista N.º 45)

2 pensamentos sobre “Parque Natural de Montesinho

  1. Bons amigos de excelência este testemunho da visita a terras transmontanas. Obrigado de coração por me terem proporcionado esta viagem e recordando deslocação há alguns anos por Gimonde, Rio de Onor e Montesinho … maravilha… parabéns! Continuem viajando e proporcionando este guia escrito… 👋👋 gostei imenso 😍😍

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