Entre o chilrear dos pássaros e o som do vento que corta as copas das árvores, lá longe (ou talvez não), ouvimos o que nos parece ser a água a cair. Sim, parece que cai, mas não sabemos exatamente que tipo de queda é: será grande ou pequena? À medida que avançamos, por entre a vegetação e o rochedo, o som intensifica-se e começamos a vislumbrar mais um lugar mágico. Sim, estamos nas entranhas do Gerês e acabámos de encontrar mais uma incrível cascata escrupulosamente esculpida pela natureza! Neste artigo descrevo as que tivemos o prazer de conhecer e, de novo, com a certeza de que Portugal é incrível na sua natural diversificação.

Para mim, é difícil classificar o que no Gerês é mais bonito: se os famosos miradouros, os trilhos, a comida, as pessoas e as tradições ou as inúmeras cascatas naturais. O Gerês está recheado de coisas incríveis, que podem ser exploradas seja com amigos ou família. Uma coisa é certa: esta é uma região verdadeiramente especial e por isso, por favor, lembre-se: quando chegou, a natureza já lá estava – deixe tudo conforme encontrou – só assim podemos garantir que outros terão as mesmas oportunidades que nós tivemos!
Saímos bem cedo do Hotel Rural da Misarela onde pernoitámos, e de imediato iniciámos o nosso pequeno “tour” por algumas cascatas que tínhamos selecionado. Estávamos no início de Agosto e o clima convidava a banhos de água bem fresquinha.
Cascata Fecha de Barjas (Tahiti ou Várzeas)
Começámos pela cascata Fecha de Barjas, também conhecida pela cascata do Tahiti. No local existe também uma placa que indica cascata de Várzeas. Seja lá como for, esta cascata localiza-se perto da aldeia da Ermida, na estrada que liga esta aldeia à localidade de Fafião (Montalegre). Arrisco a dizer que esta é talvez a cascata mais visitada, não só por se encontrar bem perto de uma estrada municipal, mas também pela sua enorme queda de água, que a torna incrivelmente deslumbrante.

Para visualizar toda a queda de água e eventualmente mergulhar de forma mais segura, é necessário contornar toda a margem esquerda do rio Arado, descer durante alguns minutos um caminho em terra batida e atravessar o rio Fafião. A travessia deste rio está dependente do nível do seu caudal.
Não perdemos tempo: mergulhámos na água fresca (não gelada como pensámos que estaria) e, entre água e o quentinho das rochas, por ali ficámos cerca de uma hora. Passado esse tempo, era hora de “levantar voo” para outra paragem, outra cascata. Era a vez de conhecermos a cascata do Arado.



Cascata do Arado
Da cascata de Fecha de Barjas à cascata do Arado são quinze minutos de carro, cerca de seis quilómetros. Estacionámos junto ao Miradouro das Rocas e percorremos a pé o caminho em terra batida até à cascata. É possível fazer o percurso de carro até à ponte sobre o rio Arado, mas o pequeno trajeto é um “túnel” de sombra feito pelas copas das árvores, o que torna esta pequena viagem muito agradável. Além disso, a probabilidade de não encontrarmos estacionamento era bastante elevada e por isso mais uma razão para fazermos o pequeno trajeto a pé. Depois de atravessar a ponte e do nosso lado esquerdo, encontrámos uma escadaria em pedra que nos levou a um pequeno miradouro, onde se pode contemplar a cascata.


Confesso que fiquei dececionada quando ali cheguei: a água que jorrava era em muito pouca quantidade, quase inexistente, e a dita cascata não existia. Do mesmo modo, a água que corria rio abaixo era também em muito pouca quantidade. Por uma das laterais da cascata, havia um grupo de aventureiros que praticavam rapel e por ali ficámos apenas uns breves minutos a contemplar a sua atividade. Estávamos já perto da hora do almoço, pelo que não perdemos tempo e procurámos um lugar agradável para degustar toda a nossa marmita, cuidadosamente preparada por nós nessa mesma manhã.
Miradouro Pedra Bela
O objetivo deste artigo não é o de falar em miradouros. Contudo, faço-o apenas como sugestão, porque decidimos parar no Miradouro Pedra Bela para o almoço. É talvez um dos miradouros mais conhecidos ou até um dos mais visitados na Serra do Gerês. Aqui existe um pequeno parque de merendas que é refrescado pelos incríveis cedros e bétulas. Além disso, presenteia os seus visitantes com uma paisagem de incrível beleza e com o poema “Pátria” de Miguel Torga, que oportunamente foi aqui colocado numa lapide. Depois de almoçarmos, partimos em direção ao centro da vila do Gerês.


Cascata da Mata de Albergaria
Irrompemos pela estrada N308-1 e que incrível percurso este: apesar do transito que se fazia sentir, é sem dúvida um itinerário deslumbrante que me fez reviver por breves instantes os bosques dos contos de fadas.
A paragem seguinte foi na cascata da Mata de Albergaria. Na verdade, íamos com o intuito de desfrutar o resto da nossa tarde na cascata da Portela do Homem, também ela inserida no bosque de nome “Mata de Albergaria”. Contudo, quando lá chegámos (à Cascata Portela do Homem) deparámo-nos com o local repleto de pessoas e verificámos que desfrutar dela dessa forma não seria nada agradável. Decidimos regressar ao final da tarde. Recorremos então ao “google maps” para ver o que haveria ali perto até as coisas acalmarem na cascata Portela do Homem. Havia outra cascata, era a cascata da Mata de Albergaria. Ora aí está, decidimos então tentar encontra-la.
Estacionámos o carro junto à fronteira com Espanha, na Portela do Homem, o único local possível para o fazer (não é permitido parar ou estacionar na mata, mas falarei disto mais à frente, apenas como apontamento).



A pé, iniciámos então o trilho que percorre parte do interior da Mata de Albergaria e que nos levou até à dita cascata. Não existe grande informação de como chegar a esta cascata, mas não tivemos grande dificuldade em conseguir encontrá-la. O trilho começa junto à placa “Geira” (ver foto abaixo). Trata-se de um percurso circular de quatro quilómetros, dois até chegar à cascata. Está inserido neste deslumbrante bosque composto por um carvalhal secular com características tão especiais ao nível da fauna e da flora geresianas que a UNESCO não teve dúvidas em classificá-la como Reserva Biogenética da Mata de Albergaria. Além disso, existe também um troço da Via Romana (Geira) que ligava duas importantes cidades da Península Ibérica: “Bracara Augusta” (a atual cidade de Braga, em Portugal) e “Astúrica Augusta” (a atual cidade Astorga, em Espanha).



Quando chegámos à cascata da Mata de Albergaria, o ambiente era já bem mais tranquilo do que aquele que encontrámos na cascata Portela do Homem. Estava um dia quente, mas suportável graças à leve brisa que circulava. Instalámo-nos e não perdemos tempo para desfrutar do clima formidável que nos rodeava.


Cascata da Portela do Homem
Depois de um belo tempo passado na cascata da Mata de Albergaria, seguimos o trilho circular até chegarmos à cascata Portela do Homem. Sim, um pouco mais à frente, este trilho entra na estrada municipal (N308-1) que, posteriormente irá passar pela cascata Portela do Homem. Quem vai em direção à fronteira, a cascata surge junto a uma ponte sobre o rio Homem, ao nosso lado direito. É também possível estacionar o carro na fronteira (porque não pode estacionar aqui) e depois retroceder a pé cerca de 500 metros pela estrada municipal até à ponte. Felizmente e como esperávamos, já não encontrámos um aglomerado de pessoas como ao início da tarde.

O local é incrivelmente bonito! A cascata forma uma deslumbrante piscina natural de água cristalina de cor azul-turquesa. É sem dúvida um local maravilhoso para uns belos mergulhos, mas também para os mais corajosos. A piscina é extensa e profunda, permitindo saltar dos penedos que se encontram nas imediações da cascata, podendo mesmo chegar a uma altura de 10 metros. Chegar até à piscina natural é um verdadeiro desafio e não é para qualquer um: a começar pela descida que pode ser feita pelo lado esquerdo (para quem está em cima da ponte e de frente para a cascata) e o percurso rochoso com enormes pedras graníticas que percorrem este pequeno troço do rio Homem, é sem qualquer dúvida desafiante, mas não impossível.



Actualmente, a forte presença humana no Parque Natural, sobretudo nos meses de verão, tem constituido uma forte ameaça para a preservação da mesma. Neste sentido e para assegurar a preservação dos frágeis ecossistemas que caracterizam, mais concretamente, a Mata de Albergaria, foram aplicadas uma serie medidas. Entre elas, o pagamento de uma taxa de acesso no valor de 1,50€ por dia de circulação na “entrada de viaturas motorizadas … da estrada florestal de Leonte até Portela do Homem e da estrada florestal de Bouça da Mó até ao entroncamento com a estrada anterior…”, entre 1 de Junho e 30 de Setembro de cada ano.
A beleza das cascatas do Gerês são indescritíveis e indiscutíveis, mesmo para os mais céticos. Mas ao mesmo tempo, apresentam um grau acentuado de perigosidade que todos os visitantes devem de estar conscientes. Os acessos não são de todo fáceis, sendo que existem uns melhores do que outros, e o excesso de entusiamo leva muitas vezes a acidentes graves e completamente desnecessários. Além disso, todos devemos de estar conscientes do respeito pela natureza e pelas indicações de segurança das autoridades locais.
“Tome precauções especiais quando caminha em zonas húmidas e rochosas, para evitar quedas, e não pratique atos que possam colocar em risco a sua segurança e a dos outros. Não saia dos percursos/trilhos e caminhos existentes.” (PNP Gerês)
Simplesmente deslumbrante este documentário sobre o desafio que é o Gerês…🙏😘 esta fabulosa descrição até nos coloca nos locais a na visualização dos mesmos…🙏😘 excelente e parabéns! Venha a próxima “viajando pé descalço”…😘😘💪
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Grata Américo, muito grata. Um beijinho ❤️🙏👣
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