Sistelo, nas raízes do Alto Minho

Sistelo, já ouviram falar? Nós não conhecíamos mas rapidamente ficámos rendidos! Chegámos ao início da noite e a temperatura ambiente era elevada. A receção foi feita por uma manada de vacas cachenas. Andavam sozinhas e, na sua pacatez, observaram-nos e… irrepreensivelmente ignoraram-nos! Estacionámos o carro numa rua estreitíssima e empedrada e nessa noite não vimos mais ninguém. Logo percebemos que esta curta estadia seria bem especial!

A aldeia de Sistelo, localizada no concelho de Arcos de Valdevez, tem estado a gozar de especial atenção pelo turismo no Alto Minho, pelo facto de oferecer uma paisagem pouco comum em Portugal – os socalcos. Em 2017, venceu o prémio “7 Maravilhas de Portugal” na categoria melhor ” Aldeia Rural”. Localizada às portas do Parque Nacional da Peneda Gerês, Sistelo é conhecida pelo seus incríveis socalcos de produção agrícola únicos e minuciosamente trabalhados pelo homem. Chamam-lhe o “Tibete Português” – se é ou não, não sei pois não conheço o Tibete, mas que a paisagem e a atmosfera são especiais, lá isso são!

Visitámos Sistelo no Verão de 2020 e, na “Casa de Sistelo“, pernoitámos duas noites. Acordámos cedo e, com o mugir de uma vaca que passava ao lado da janela do nosso quarto, saltámos de imediato da cama para descobrir as maravilhas que esta aldeia tem para oferecer. Ainda não estavam muitas pessoas na rua e só mais tarde pudemos perceber o quão movimentada é esta aldeia.

Pois bem, surge então a pergunta: “o que fazer numa aldeia em que praticamente e teoricamente nada se passa?” Esta não é uma aldeia “vulgar” e de facto aqui muita coisa acontece! No centro da aldeia, mais precisamente no Largo do Visconde de Sistelo, existem alguns placares informativos: é aqui que muitos percursos começam e terminam. Eis algumas coisas que se podem ver e fazer:

  • O largo Visconde de Sistelo, o cruzeiro e os espigueiros;
  • Casa do Castelo;
  • Igreja matriz de Sistelo;
  • Ecovia do Vez;
  • Trilhos pedestres;
  • Miradouros fabulosos;
  • Mergulhos e piqueniques no rio Vez;
  • Desfrutar da gastronomia local.

Na altura de escolher o que fazer, tivemos em consideração alguns destes pontos claro, mas a prioridade seria também para descansar e aproveitar a pacatez da aldeia. Depois de um cafezinho rápido na “Tasquinha da Ti’mélia“, iniciámos uma caminhada pela aldeia. O objetivo era conhecer a redondeza e saber exatamente o que tínhamos por perto.

O largo do Visconde Sistelo, o cruzeiro e os espigueiros

O largo e o cruzeiro foram os primeiros espaços que conhecemos. Está localizado bem no centro da aldeia e é o ponto de partida ou chegada para muitos percursos pedestres (onde estão também os placares informativos).

Já os espigueiros estão por todo o lado e é impossível não darmos por eles. Bem perto da igreja existe um largo (aparentemente criado para o efeito) onde estão reunidos muitos deles e que são a atração dos visitantes. Contudo, a sul existe outro largo de espigueiros bem mais tranquilo e por onde vagueamos durante algum tempo.

Casa do Castelo

A Casa do Castelo é mais um ponto de referência. Trata-se de um palácio revivalista construído na segunda metade do século XIX pelo primeiro Visconde de Sistelo, Manuel António Gonçalves Roque. Oriundo desta aldeia, quando regressou do Brasil, decidiu aplicar toda a sua fortuna na sua construção. Está localizado na centro da aldeia e não é difícil identificá-lo dada a sua arquitetura.

Igreja Matriz de Sistelo

A Igreja Matriz de Sistelo surge no final da rua principal de Sistelo. Não conseguimos encontrá-la aberta e por isso não pudemos visitar o seu interior. Consta-se que os seus primeiros registos pertencem à arquidiocese de Braga no século XVI. Também não é difícil de a encontrar, caso contrário de hora a hora “ela dará o ar da sua graça”.

Ecovia do Vez

Aqui está mais uma razão para querermos visitar Sistelo. A Ecovia foi construída e idealizada pelo município de Arcos de Valdevez com o objetivo de dar a conhecer não só a Vila mas as aldeias e locais que de outra forma seria bem mais difícil de o fazer. A sua extensão é de 32 quilómetros e está dividida 3 etapas. Começa em Jolda S. Paio e termina em Sistelo. Os rios Lima e Vez são os anfitriões e os mergulhos refrescantes nas suas águas, quer das praias fluviais ou das várias represas, são também opções. Não tivemos oportunidade de percorrer toda a Ecovia mas apenas parte dela – a que termina em Sistelo. O pequeno trajeto que percorremos é mesmo muito agradável e pelo meio ainda pudemos dar uns mergulhos nas águas do rio Vez. Se tem curiosidade desafio-o a visitar o site oficial onde poderá encontrar toda a informação importante para a sua visita.

Trilhos pedestres

Aí está mais uma boa razão para visitar Sistelo – as caminhadas no silêncio da natureza. Há quem lhe chame a meca das caminhadas e de facto faz algum sentido, isto porque não faltam opções para pequenos ou grandes passeios. Existem 8 trilhos classificados como “pequenas rotas”, cujas distâncias variam entre 1 quilómetro a 25 quilómetros. Durante a nossa estadia fizemos o “Trilho das Pontes de Sistelo” (de 1 quilómetro e que se estende por Sistelo) e o “Trilho dos Passadiços” (de 2 quilómetros, que apanha parte da Ecovia e que ainda permite uns mergulhos nas águas do rio Vez). Deixo o folheto informativo disponibilizado pelo município de Arcos de Valdevez aqui.

Miradouros fabulosos

A sul, a aldeia possui paisagens fabulosas sobre o vale e estas podem ser visitadas com relativa facilidade numa caminhada. Já o Miradouro dos Socalcos, em Porta Cova, Miradouro da Estrica, em Estrica, ou Miradouro Chã da Armada não estão propriamente perto de Sistelo ao ponto de chegar num par de minutos. Visitámo-los de carro, mas alguns dos percursos pedestres passam por estes pontos. Quem visita Sistelo não pode, de forma alguma, deixar de visitar estes pontos de incrível beleza.

Mergulhos e piqueniques no rio Vez

Aficionados por água desde sempre e com o calor que se sentia, aproveitámos uma tarde para uns mergulhos e um piquenique. A Praia Fluvial de Sistelo, por onde também passam alguns percursos pedestres e a Ecovia, é para mim o local mais indicado. Levamos o piquenique e ficámos por aqui quase até o pôr-do-sol.

Gastronomia local

Habitualmente procuramos fazer as nossas próprias refeições, mas “não há regra sem exceção”. Como bons portugueses, não podíamos deixar de degustar as iguarias da região e por isso decidimos regressar à “Tasquinha da Ti’mélia“, para jantar, onde já tínhamos estado a “namorar” alguns pratos. Decidimo-nos pelos petiscos! Entre queijos e enchidos, a carne da vaca cachena, a sopa à lavrador e o pão caseiro, impunha-se mais uma “caminhada digestiva”.

Na memória guardamos imagens únicas de uma aldeia mágica, enérgica e especial. Sistelo não merece uma visita de uma ou duas horas, mas sim de 2 ou 3 dias.

Vimos uma aldeia agitada durante o dia e uma noite tão silenciosa que a nossa própria respiração quase que se torna ensurdecedoramente audível. Os telemóveis ficam praticamente inutilizáveis, pois a rede é fraquíssima. Pudemos priorizar outras coisas e confesso que se tornou numa experiência incrível.

4 pensamentos sobre “Sistelo, nas raízes do Alto Minho

  1. Queridos amigos Magno e Silvia,

    Uma delícia de descrição tão pormenorizada de Sistelo. Parabéns! Fizeram-me reviver uma curta passagem de um dia sem ecovia mas de carro.
    Excelente!
    O meu abraço amigo com muito carinho e afecto

    Américo

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  2. Obrigado por partilharem as vossas jornadas de prazer e carinho pela natureza. Ao mesmo tempo, parabens pela inventariação das vossas viagens. Um dia saberá bem rever…. e será sempre tónico para a vossa união tão feliz….. Abracao

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