As soberbas paisagens a perder de vista apaixonam qualquer um e nós não somos a exceção. Há muito tempo que o Alto Douro Vinhateiro faz parte das nossas rotas turísticas, mas não desta forma que agora partilho. Estava na hora de explorar esta região de forma diferente, procurando as suas raízes e a sua essência. Para isso, nada melhor do que partir à aventura na descoberta de mais um percurso pedestre, o “PR2 – Percurso do Vinho do Porto” e não podíamos ter escolhido melhor!

O Vale do Douro é o resultado maravilhoso da natureza mas também dos séculos de trabalho árduo do Homem. Deste trabalho resultam as vinhas que originam as castas do célebre Vinho do Porto. Anos de muito trabalho humano a desventrar a terra, a remover o xisto maciço, a moldar os socalcos para organizar minuciosamente as videiras na forma como hoje temos o prazer de conhecer. No século XVIII, Marquês de Pombal recompensaria este esforço com o título de primeira Região Demarcada do Mundo. Em 2001, a UNESCO classificou o Alto Douro Vinhateiro como Património Mundial na categoria de “Paisagem Cultural”.

Na região, as paisagens são tão heterógenas que perdem-se de vista: se por um lado avistamos as vinhas e os socalcos no coração do Douro, por outro a vegetação agreste que cresce espontaneamente na zona superior. Mas não é só vinha que se cultiva por aqui. A região é propícia ao cultivo de outras culturas como a oliveira, a amendoeira, ou as árvores de fruto como a figueira, a cerejeira (as deliciosas de Resende), o pessegueiro, entre outros saborosos manjares.

Descrição do “PR2 – Percurso do Vinho do Porto”
O nosso passeio começou na manhã de um sábado primaveril, partindo em direção a Lamego. O destino era a aldeia de Samodães, mais precisamente o adro da sua igreja, onde o percurso circular começa e termina. Daqui vislumbrámos a paisagem arrebatadoramente bonita sobre o Vale do Douro, mas esta seria apenas a primeira de muitas que viríamos a registar.

O trilho (teórico) de 6,9 quilómetros, dura sensivelmente 3h30. Seguindo o conselho de outros viajantes, fizemos o percurso em sentido contrário aos ponteiros do relógio (o nosso percurso no mapa da foto abaixo). As razões são essencialmente duas: desfrutámos durante 4 quilómetros da paisagem maravilhosa que nos aparecia na maioria das vezes de frente e, por outro lado, o declive é menos acentuado durante mais tempo. De frisar que, a subida na última parte do percurso é de facto extenuante e exige algum esforço físico. Com calma e parando as vezes que forem precisas faz-se relativamente bem.


Lembro que, as indicações dos percursos pedestres obedecem geralmente às normas da Federação de Campismo e Montanhismo de Portugal e este também não é exceção. Apesar de neste percurso termos sentido alguma dificuldade em ir encontrando as indicações (por nem sempre estarem bem visíveis ou em bom estado de conservação), foi por elas que nos orientámos.
Do adro da igreja e de costas voltadas para ela, seguimos para a direita, descendo a estrada municipal alcatroada para, um pouco mais à frente, virar à esquerda. Salvo muito raras exceções, o trilho só volta a ser em solo alcatroado no final.


Durante grande parte do percurso, percorremos vielas e ruelas empedradas e em terra batida que com chuva podem tornar-se bastante perigosas.


À medida que avançamos no percurso, a grande povoação começa a ficar para trás e começamos a entrar nas vinhas, penetrando literalmente as suas quintas. Logo depois voltamos a ser brindados com a doce paisagem, onde o rio Douro serpenteia sobre o seu vale e teima em fazer-nos companhia no restante percurso.

Já bem perto do rio Douro, surge imponente o hotel “Six Senses Douro Valley” e é impossível não darmos por ele. Está magnificamente posicionado no vale e a sua beleza sobressai entre o verde da natureza. Além disso, atravessamos a propriedade agrícola onde o hotel está localizado. É a Quinta do Vale de Abraão.

Chegámos às margens do rio, onde parámos para restabelecer forças e desfrutar do quotidiano da zona, onde os barcos dos cruzeiros oram sobem ora descem.



Depois de percorrermos pouco mais de um quilómetro junto à margem do rio, iniciámos a parte mais difícil do percurso. Estou a falar de uma subida bastante acentuada de 2,5 quilómetros até ao ponto de partida e onde o desnível é de cerca de 300 metros. Sim, parámos imensas vezes para respirar fundo e beber água. Apesar do esforço acrescido, as paragens permitiram desfrutar do silêncio que nos rodeava e da paisagem claramente compensadores para o restabelecer das energias. Pouco depois e sem darmos por isso, chegávamos de novo à aldeia de Samodães e ao ponto de partida.

Percorremos trilhos únicos, ladrilhados por vinhas que produzem os melhores vinhos do mundo. Os solares, as quintas, as aldeias e os testemunhos das pessoas que nelas habitam marcam memoravelmente a cultura e a paisagem da região, que nos fazem recordar a cada instante a importância que o Douro assume para Portugal e para o resto do mundo. Na minha opinião, o Trilho Vinho do Porto é sem dúvida um dos mais belos percursos pedestres e uma das melhores formas de conhecer a região. Contudo, não é a única forma de conhecer a região.
Outras atividades…
Termino este artigo com a partilha de uma pequena pesquisa que em tempos fiz, sugerindo outras formas de desfrutar da região. Na minha opinião algumas talvez menos intensas e mais dispendiosas, mas igualmente valiosas:
- Andar num comboio histórico – a linha do Douro é de uma beleza única, em que o percurso faz-se em grande parte junto ao rio. Existem muitas opções onde a composição vintage, com carruagens dos anos 40 e locomotiva dos anos 60, ou com uma locomotiva a vapor fazem parte das opções;
- Passeio de barco – visitar esta região e não fazer um passeio de barco é impensável. Mais curto ou mais longo são parte das opções e os socalcos e a paisagem vista a partir do rio é ainda mais encantadora;
- Dormir a bordo – e porque não? Adormecer embalado pela suave ondulação do rio num barco ou veleiro são mais algumas opções;
- Ficar hospedado num chalé na margem do rio – Confesso que esta opção não conhecia. Não se trata exatamente de um hotel ou uma quinta, mas sim de casinhas mesmo junto ao rio, individuais e que proporcionam estadias com atividades diversas, localizada em Ferradosa, em São João da Pesqueira;
- Relaxar num SPA de luxo – Esta será com toda a certeza uma opção retemperadora que qualquer um desejará. Na região não faltam opções;
- Fazer rafting – Para os mais aventureiros eis uma opção digna de emoções. Navegar no rio Douro ou, para os que gostam de mais adrenalina, nos afluentes rios Tua ou Paiva o rafting é a opção. Existem também outras atividades como o kayak, canoagem, slide ou o rapel;
- Participar nas vindimas – E porque não ajudar nesta lida? As lembranças de infância com o meu avô ou o meu pai são memoráveis de aprendizagem e alegria; Setembro é a época das vindimas e existem muitas quintas na região que disponibilizam uma serie de atividades associadas à produção do vinho;
- Explorar as aldeias, vilas e cidades durienses – Por fim e não menos importante, a visita à região envolvente. Destaco a Régua, Lamego, Pinhão, São João da Pesqueira, sem falar num número infindável de aldeias da região dignas de visita.
A imaginação é o limite. Boas viagens!
